Há uma cena na clássica série cômica dos anos 2000, The Office, em que um chefe sem bom senso faz um discurso motivacional. “O riso é o melhor remédio”, introduz.
Brent segue dizendo que isso reduz o estresse e que, por isso, ele o pratica várias vezes durante a jornada de trabalho. Em seguida, demonstra sua técnica caindo em uma gargalhada solitária. Sob um olhar mórbido da sala inteira, os 30 segundos de riso parecem uma eternidade.
Mas, na verdade, Brent parece finalmente ter razão. Ele estava, de certo modo, descrevendo o que os especialistas chamam de “microintervalo”, ou seja, qualquer atividade breve que ajude a quebrar a monotonia de tarefas que provoque um desgaste físico ou mental. A estratégia pode durar de alguns segundos a vários minutos e envolve desde tomar uma xícara de chá até alongar ou assistir a um clipe de música.
Estudos mostram que, embora os intervalos sejam minúsculos, eles melhoram a capacidade de trabalhadores de se concentrar, de avaliar seus próprios empregos e até mesmo de se protegerem contra lesões ligadas a ficar à mesa o dia todo.
Como não há consenso sobre quanto tempo o microintervalo deve durar ou com que frequência se deve fazê-lo, o trabalhador deve testar o que funciona melhor para cada um, recomendam os especialistas. Na realidade, se você costuma se reclinar para falar com uma pessoa ao seu lado ou dá uma olhada no smartphone, é possível que você já seja mestre da técnica.
Segundo Sooyeol Kim, doutorando da Universidade de Illinois e especialista em microintervalos, há apenas duas regras: eles devem ser curtos e voluntários. Os intervalos, diz, ajudam os profissionais a lidarem com o fato de que passam a maior parte do dia no trabalho.
Efeito calmante
A técnica foi inventada no final de 1980 por pesquisadores do Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional em Ohio e da Universidade Purdue, nos Estados Unidos. Eles queriam entender se as pequenas pausas poderiam aumentar a produtividade ou reduzir o estresse. Por isso criaram um ambiente de escritório artificial e convidaram 20 participantes para “trabalhar” durante dois dias, realizando tarefas “extremamente repetitivas”.
Cada participante ganhava um microintervalo a cada 40 minutos de trabalho. Durante o intervalo, que durava apenas 27 segundos, os participantes paravam de trabalhar, mas permaneciam em sua estação de trabalho.
Depois de acompanhar os batimentos cardíacos e a produtividade dos “funcionários” antes e depois de cada intervalo, os cientistas descobriram que as pausas não eram tão benéficas quanto esperavam. Sua força de trabalho se saiu pior em algumas tarefas depois do descanso – digitando menos teclas por minuto, por exemplo. Mas uma coisa chamou a atenção: as pessoas que tiraram microintervalos um pouco mais longos tiveram frequências cardíacas mais baixas, sugerindo com isso que elas teriam se acalmado. O trabalho delas também exigiu menos correções.
Após décadas de mais pesquisas, o microintervalo foi redimido. Existem agora diversas evidências de que eles podem ser benéficos – reduzindo o estresse, mantendo os trabalhadores engajados e tornando o trabalho mais agradável. No caso do primeiro estudo, como as pausas mais longas estavam ligadas a uma melhor recuperação, os cientistas especularam que talvez os microintervalos fossem simplesmente curtos demais.
Por que alongar é importante
A única área em que os microintervalos se tornaram amplamente aceitos é como método para reduzir o risco de lesões no trabalho. “Nós os recomendamos a todos os nossos clientes”, diz Katharine Metters, ergonomista, fisioterapeuta e especialista em saúde e segurança da consultoria de ergonomia Posturite.
Os números mais recentes da HSE – agência governamental britânica sobre saúde e segurança do trabalho – dão o tamanho do problema. Entre 2017 e 2018, havia 469 mil trabalhadores no Reino Unido sofrendo de lesões músculo-esqueléticas adquiridas em seus empregos. De acordo com Zaheer Osman, fundador e diretor da consultoria de ergonomia Adept Ergonomics, a maioria não percebe que está se prejudicando até sentir dor – ou seja, quando já é tarde demais.
Uma área em que isso se tornou particularmente evidente é a cirurgia. Em um campo que exige precisão, em que os erros costumam custar a vida de pacientes, é importante encontrar maneiras de ajudar os especialistas a evitar distrações e a manter o foco. Em 2013, um pequeno estudo analisou se os microintervalos podiam ajudar. Dois pesquisadores da Universidade de Sherbrooke, no Canadá, testaram 16 cirurgiões para verificar se os intervalos de 20 segundos a cada 20 minutos afetavam seus níveis de cansaço físico e mental.
Para o experimento, os cirurgiões foram colocados em situações estressantes de operações complexas da vida real e depois avaliados em uma sala adjacente. Lá, eles foram solicitados a traçar o contorno de uma estrela com sua tesoura cirúrgica (uma variante de um jogo experimental clássico usado para testar a precisão das mãos) e ver quanto tempo eles poderiam suportar um peso com o braço esticado.
Cada um foi testado três vezes: antes da operação, depois de uma operação em que foram permitidos microintervalos e outra após uma cirurgia sem esses períodos. Durante os intervalos, eles foram solicitados a deixar brevemente a área de trabalho e a fazer alongamentos.
Os cirurgiões foram sete vezes mais precisos em seus desenhos após as operações com microintervalos. Eles também tinham metade dos níveis de cansaço físico e sentiam menos dor nas costas, pescoço, ombros e pulsos.
Desfrutar o intervalo
Os microintervalos dão aos trabalhadores uma certa licença para se entregar ao que pode parecer uma perda de tempo. Tirar um tempo para navegar na internet – embora não por mais de 12% do dia, de acordo com um estudo – ou contemplar campos floridos pode melhorar a produtividade e ajudar os funcionários a se concentrar.
Tome como exemplo um estudo conduzido por Sooyeol Kim, doutorando da Universidade de Illinois. Juntamente com colegas, ele queria investigar se os microintervalos poderiam ajudar pessoas que trabalham em empregos emocionalmente desgastantes – particularmente onde há uma lacuna entre como eles se sentem por dentro e como devem aparecer em público. A equipe escolheu call centers como o local ideal para o estudo.
Os participantes eram operadores de telemarketing da Coreia do Sul que vendiam produtos como cartões de crédito e seguros. Cada um forneceu registros diários de desempenho de vendas por um período de duas semanas; também preencheu uma pesquisa antes e depois de cada dia de trabalho. Estas incluíam perguntas sobre seu “afeto positivo” – o grau de sentimentos positivos, como felicidade e otimismo – carga de trabalho e quaisquer microintervalos que tiravam.
Aqueles que não se sentiam engajados com seus empregos pareciam se beneficiar dos microintervalos; eles tinham aumento da produtividade e sentimentos mais positivos. Mas esse era apenas o caso de pausas que envolviam certas atividades, como relaxar, conversar com colegas ou outras atividades mais exigentes, como navegar na internet. Estranhamente, intervalos para lanche não proporcionavam nenhum benefício.
Uma explicação é que os lanches tendem a se sobrepor a outros tipos de relaxamento, como ser sociável, tornando mais difícil medir seu impacto. Mas outra explicação é que os outros intervalos foram mais agradáveis. “Apenas matar a fome ou sede, isso sempre lhe faz feliz?”, pergunta Kim. “Às vezes, isso apenas está removendo seu desconforto.”
O cientista social Andrew Bennett estudou os microintervalos para seu doutorado na Universidade Virginia Commonwealth. Sua principal descoberta foi que usar esse período para assistir a um clipe de vídeo engraçado deixou as pessoas revigoradas e mais atentas, com menor fadiga e menores atrasos em seus tempos de resposta durante um teste cognitivo.
Reformule, se necessário
É claro que assistir a clipes de televisão pode não agradar seu chefe – mas há muitas outras maneiras de fazer microintervalos sem parecer que você está jogando tempo fora. Aqui estão algumas dicas dos especialistas.
“Uma boa maneira de se forçar a fazer uma pausa é ter uma garrafa de água grande em sua mesa. Você terá que ir ao banheiro – o que é uma boa maneira de se forçar a ficar de pé, enquanto se mantém hidratado”, diz Osman.
Kim, da Universidade de Illinois, enfatiza que a maneira como as pessoas gastam seus intervalos deve ser decidido por cada um, já que diferentes indústrias tendem a acomodar diferentes tipos de intervalo. “As organizações podem oferecer um ambiente livre em que seus funcionários aproveitem as oportunidades de recuperação da forma como quiserem, equilibrando pressão e bem-estar.”