Vivemos há mais de um ano em um contexto de pandemia gerada pela COVID-19 e neste período, no Brasil, se agudizam as crises econômicas, políticas e sociais. São mais de 13 milhões de casos de coronavírus registrados, passamos de 330 mil vidas perdidas, chegando ao marco mundial de mais de 4 mil mortes por dia. Aproximadamente 24 milhões de doses da vacina já foram aplicadas até o momento e apenas 3% da população recebeu as duas doses da vacina. Os serviços de saúde se encontram com índices críticos de ocupação de leitos de UTI e enfermaria em praticamente todo o país.
Segundo painel lançado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS, houve um aumento de 22% do número de óbitos por causas naturais em 2020. O que pode ser consequência indireta da pandemia, por exemplo, devido a sobrecarga nos serviços de saúde, interrupção de tratamento de doenças crônicas ou mesmo pelo receio da população em se infectar pelo novo coronavírus, diminuindo a busca por assistência à saúde.
Enquanto isso, há 14,4 milhões de pessoas desempregadas, aumento da informalidade no trabalho e de trabalhadores por conta própria, de acordo com a PNAD Contínua/IBGE que analisou o trimestre de novembro de 2020 a janeiro de 2021.
Uma das principais medidas sanitárias para evitar a transmissão do vírus foi o distanciamento social, mesmo que tenha sido desincentivado nos discursos do governo desde o início da Pandemia. No entanto, esta não é a realidade para grande parte da classe trabalhadora ou porque precisaram manter as atividades presenciais nos serviços considerados essenciais, ou porque precisaram inventar formas de manter a renda e precisaram se expor nos ambientes de trabalho ou transportes coletivos.
Análise do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED, do Ministério da Economia, demonstra que cresceram os registros de contratos encerrados por motivo de morte, comparando dados do início de 2020 com o início de 2021. Frentista de posto de gasolina (68%), operador de caixa de supermercado (67%), motorista de ônibus (62%), vigilante (59%) estão entre as categorias que tiveram mortes a mais.
O Conselho Federal de Enfermagem já registrou 753 mortes na categoria em decorrência do coronavírus. Além do risco de adoecer e morrer, atuando em ambiente de alto risco de contágio, profissionais de saúde enfrentam também uma sobrecarga de trabalho por conta de turnos dobrados para compensar os afastamentos de colegas em quarentena ou afastados por outras condições, falta de insumos e leitos e falta também de direcionamento de gestão em relação a tratamento adequado, disponibilidade de vacina e demais anseios da população.
Outra realidade é a volta da fome. A pesquisa VigiSAN mostra que, 116,8 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar, desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome, sendo que Nordeste e Norte são mais afetados pela fome, permanecendo as desigualdades regionais.
Enquanto isso, a Forbes revela que há no mundo 40 novos bilionários lucrando com o setor saúde durante a pandemia. Entre 2020 e 2021 também subiu de 45 para 65 o número de brasileiros na lista de bilionários do mundo, passando de US$ 127,1 bilhões para US$ 219,1 bilhões em um ano o total que detêm. Estão entre os brasileiros mais bem posicionados nesta lista empresários de operadoras de plano de saúde, de multinacionais de bebidas, de redes sociais, de capital privado, fertilizantes químicos, rede varejista de eletrônicos e móveis e empresas de serviços financeiros.
Ou seja, enquanto o governo insiste em um falso dilema entre salvar vidas e salvar a economia, falta emprego e renda básica universal para trabalhadoras e trabalhadores poderem seguir medidas sanitárias como o isolamento social, ao passo que determinados setores aumentam seus lucros.
A saúde é um direito de todas e todos, garantido na constituição, e para ser efetivado necessita de um Sistema Único de Saúde – SUS robusto. Se chegamos a este mínimo de vacinação e de registros epidemiológicos da COVID-19 no Brasil é porque a vigilância em saúde está garantida no SUS. Esta é a politica pública que pode atender as necessidades da classe trabalhadora desde a prevenção e tratamento de doenças e agravos até a promoção da saúde. Não restam dúvidas de que o momento exige uma grande mobilização em defesa da vida, em defesa do SUS.
Fontes consultadas:
https://www.conass.org.br/indicadores-de-obitos-por-causas-naturais/