No dia 7 de abril, celebramos o Dia Mundial da Saúde. Esta data nos lembra da importância da saúde em nossa vida, e também nos instiga a refletir sobre os desafios globais e as conquistas alcançadas.
As mudanças no mundo do trabalho, a partir da globalização e da reconfiguração produtiva, impactaram nas formas de produção, nos modos de organização e nas relações de trabalho. As diversas formas de contratação e precarização das relações de trabalho, refletem o aumento do desemprego, da falta de estabilidade laboral, da intensificação das jornadas e ritmos de trabalho, que expõem a diminuição à proteção trabalhistas e aumentam a insegurança social (GEMMA; et.al., 2017).
Quando falamos em saúde, devemos considerar uma série de fatores que vão contribuir para o bem estar geral do sujeito. É preciso olhar para o todo: corpo, mente e o contexto social onde vive e considerar suas necessidades integrais (DIESAT, 2022).
A 8ª Conferência Nacional de Saúde significou um “divisor de águas” da democracia participativa e do conceito ampliado de saúde, onde foi defendida que “Democracia é Saúde”. Saúde deixa de ser um conceito estanque, somente da ausência de doenças, e passa a agregar, fatores determinantes e condicionantes, de forma intersetorial (DIESAT, 2021).
A Constituição Federal de 1988, no Art. 196 deu materialidade legal para a “Saúde como Direito de todos e Dever do estado”. A determinação social da saúde, como um conceito ampliado, envolve observar como esses determinantes vão influenciar a ocorrência de problemas de saúde e os fatores de risco à população, como: moradia, alimentação, emprego, renda e escolaridade (BRASIL, 1988).
O estudo desses determinantes permite ampliar políticas públicas, que possam reduzir iniquidades e avançar na construção de políticas de saúde, que respeitem a igualdade dos direitos entre os cidadãos.
A saúde do trabalhador(a), abrange o bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores(as) em todos os setores e ambientes de trabalho. Essa relação é destacada pelo fato de que o local de trabalho pode ser tanto um ambiente que promove saúde, quanto um ambiente que causa riscos à saúde dos(as) trabalhadores(as).
Construir ambientes de trabalho seguros, com políticas de saúde eficazes, contribuem para a promoção da saúde dos(as) trabalhadores(as). Isso inclui medidas como a prevenção de acidentes, o controle de exposição a substâncias nocivas, a ergonomia adequada e programas de promoção da saúde.
Por outro lado, ambientes de trabalho inadequados, com condições perigosas, excesso de carga de trabalho, violências como o assédio moral e sexual, podem ter um impacto negativo na saúde dos trabalhadores(as). Além disso, temos as lesões relacionadas ao trabalho, estresse, ansiedade e depressão, são exemplos de problemas de saúde que podem surgir quando as condições de trabalho não são adequadas.
Além do que, a exigência do ritmo acelerado de trabalho e a falta de flexibilidade quanto a realização das atividades apresentam condições favoráveis para o desenvolvimento de várias doenças laborais, como as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e/ou os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), que são provocadas pela realização de movimentos desconfortáveis, repetitivos, com emprego da força e sem pausas periódicas durante o trabalho (JANUÁRIO; MARINHO, 2020).
Dados sobre a saúde mental dos brasileiros refletem uma realidade complexa, marcada por desafios e necessidades de intervenção. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019), cerca de 86,9 milhões de pessoas no Brasil (ou seja, 41,2% da população) relataram ter sofrido algum tipo de problema de saúde mental, como depressão, ansiedade ou síndrome do pânico.
A pandemia de COVID-19 exacerbou os problemas de saúde mental, aumentando os níveis de estresse, ansiedade, depressão e outros transtornos. O isolamento social, as preocupações com saúde e as dificuldades econômicas contribuíram para esse aumento. No entanto, o Dia Mundial da Saúde também nos lembra dos desafios que temos enfrentado, como as disparidades de acesso aos cuidados de saúde principalmente para determinados grupos populacionais, como exemplo a dificuldade de acesso das mulheres negras e de minorias étnicas dentro dos serviços de saúde que sofrem discriminação e violência.
Estudos apresentam que o trabalho das mulheres é perpassado por desigualdades econômicas, culturais e sociais. As mulheres têm dificuldade de inserção no mercado de trabalho formal, há desigualdade salarial e acúmulo de tarefas, que vão do trabalho remunerado ao doméstico. As mulheres são mais vulneráveis ao assédio moral, sexual e a violência física, além do que, as mulheres negras possuem os piores acessos aos serviços de saúde (SILVA, et. al., 2019).
Os principais fatores que contribuem para a dificuldade de acesso à população negra são baixo nível de renda e escolaridade, racismo, sexismo e condições socioeconômicas e culturais, bem como o racismo institucional que é apontado como uma barreira aos serviços de prevenção à saúde para mulheres negras. Esses principais fatores atuam de forma articulada, afetando a garantia de acesso universal e equânime à saúde (SILVA, et. al., 2019).
Outro grupo populacional que apresenta essa dificuldade de acessar os serviços de saúde é a população LGBT+, uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP (2022), com um recorte de pessoas acima de 50 anos, que é um grupo de maior necessidade de atendimento médico, evidenciou que existe uma maior vulnerabilidade no atendimento a essa população, quando comparada com a mesma população não-LGBT+ (CRENITTE, et. al., 2022).
À medida que celebramos o Dia Mundial da Saúde, é importante também reconhecer a saúde do planeta. A degradação ambiental, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade têm impactos diretos na nossa saúde. Portanto, proteger o meio ambiente não é apenas uma questão de preservação da natureza, mas também uma medida crucial para garantir o nosso bem-estar e o das futuras gerações.
O DIESAT renova seu compromisso que através da participação dos espaços coletivos e de controle social, é possível alcançar expressivas mudanças em relação a garantia de direitos à saúde. É preciso nos reinventar, somar forças e trabalhar em prol de um país mais justo para todas as pessoas.
Referências:
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 35. ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2016. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 03 abr. 2024.
CRENITTE, M. R. F, et. al. Transforming the invisible into the visible: disparities in the access to health in LGBT+ older people. CLINICS. v. 78, jan./dez. 2023. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1807593222033506. Acesso em: 02 abr. 2024.
DIESAT – Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisa de Saúde e dos Ambientes de Trabalho. Eu Preciso Falar: A Violência no Trabalho. 2022. Disponível: https://diesat.org.br/2023/03/acervo/eu-preciso-falar-a-violencia-no-trabalho/. Acesso em 03 abr. 2024.
GEMMA, S. F. B.; FUENTES-ROJAS, M.; SOARES, M. J. B. Agentes de limpeza terceirizados: entre o ressentimento e o reconhecimento. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 42, p. e4, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbso/a/rgGpCypqpBRddBfpdJfqyYD/abstract/?lang=pt#. Acesso em: 27 mar. 2024.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: Percepção do estado de saúde, estilos de vida, doenças crônicas e saúde bucal. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9160-pesquisa-nacional-desaude.html?edicao=29270&t=resultados. Acesso em: 03 abr. 2024.
JANUÁRIO, T. L. S.; MARINHO, J. L. A. Saúde e segurança do trabalho no setor de serviços gerais em dois campi de uma universidade pública localizadas em Juazeiro do Norte- CE E Crato-CE: um estudo de caso. Brazilian Journal of Production Engineering, [S. l.], v. 6, n. 3, p. 17–29, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/bjpe/article/view/28676. Acesso em: 27 mar. 2024.
SILVA, et. al. Acesso da população negra a serviços de saúde: revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, p.1-9, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/nMTkjYhjBNwbqmQCDZNPKzM/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 03 abr. 2024.
Referências:
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