Entre os dias 18 e 21 de agosto, Brasília sediou a 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (5ª CNSTT), que reuniu aproximadamente 3 mil pessoas de todas as regiões do Brasil. Estiveram presentes delegados, delegadas, movimentos sociais, sindicatos, pesquisadores, gestores e representantes de instituições públicas. O encontro reafirmou que a saúde no trabalho é direito humano e consolidou uma agenda pública voltada à proteção da vida frente às transformações do mundo do trabalho.
A conferência evidenciou o desafio de construir uma nova agenda nacional para a saúde do trabalhador e da trabalhadora, capaz de enfrentar os efeitos da precarização, da informalidade e das novas tecnologias sobre a vida da classe trabalhadora. Nesse contexto, o debate mostrou que não basta apenas denunciar as violações: é preciso anunciar propostas transformadoras, que articulem políticas públicas e participação popular.
Entre os temas de maior destaque esteve a discussão sobre a efetivação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), reconhecendo a importância de fortalecer a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhado e da Trabalhadora (RENASTT) e ampliar a vigilância em saúde nos territórios. As falas reforçaram que a política precisa deixar de ser letra morta e se tornar realidade concreta no chão das fábricas, nos campos, nas águas, nos serviços e em todos os ambientes de trabalho.
O processo democrático da 5ª CNSTT resultou na aprovação de 134 diretrizes e 520 propostas. Destas, 483 propostas foram aprovadas diretamente nos Grupos de Trabalho. Outras 37 chegaram à plenária final, sendo que: 3 foram rejeitadas, 24 aprovadas com supressões parciais e 10 aprovadas integralmente em seu texto original. O resultado demonstra a vitalidade da participação popular e o compromisso coletivo em produzir diretrizes concretas para a proteção da saúde no trabalho.
Outro ponto enfatizado foi a importância da educação popular, da formação contínua e do empoderamento dos trabalhadores e trabalhadoras como eixos para fortalecer a participação social e a luta pela saúde. Ficou exclamado que sem trabalhadores e trabalhadoras organizados, conscientes e protagonistas, nenhuma política pública será capaz de se sustentar.
Como destaque, também foi lembrada a proposta de criação de um Sistema Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, apontada como iniciativa estratégica para unificar ações hoje dispersas entre diferentes ações de saúde do trabalhador e da trabalhadora nas esferas governamentais. Ainda que não seja o norte central do debate, a proposta abre uma possibilidade concreta de maior articulação e efetividade nas políticas públicas.
A Conferência também foi marcada pelo lançamento da Pesquisa Perfil dos Participantes da 5ª CNSTT e suas vivências de participação social nos territórios, desenvolvida em parceria pelo DIESAT, CISTT/CNS, Unicamp e CGSAT/MS. A iniciativa inova ao levantar dados fundamentais sobre quem são as pessoas que constroem a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, conhecer suas realidades, percepções, pertencimentos e desafios cotidianos. Esses resultados serão referência para pensar ações futuras, qualificar o controle social e orientar políticas públicas baseadas na realidade concreta da classe trabalhadora em seus territórios.
Outro aspecto que merece destaque foi a participação massiva de dirigentes sindicais, em especial de membros da direção nacional do DIESAT, que estiveram na linha de frente como coordenadores de grupos, secretários, delegados, articuladores de atividades autogestionadas e protagonistas em momentos significativos da conferência. Essa presença reforça a identidade histórica do movimento sindical como defensor da vida e da saúde da classe trabalhadora, reafirmando o compromisso coletivo de transformar propostas em conquistas reais.
O ponto alto da 5ª CNSTT foi o ato político-cultural “Trabalhadores Unidos Jamais Serão Vencidos”, que reuniu para além de delegados, delegadas, pessoas simpatizantes que se juntaram durante o ato, em uma demonstração de unidade e força coletiva. O ato reafirmou que a luta por saúde e dignidade no trabalho é também uma luta pela democracia, pela vida e pela construção de um país mais justo.
Encerrada a conferência, fica o maior dos desafios: garantir a devolutiva das deliberações à sociedade e, sobretudo, lutar pela implementação efetiva das propostas aprovadas. A história mostra que muitos avanços podem ser esvaziados se não houver pressão popular e compromisso político. Por isso, cabe aos sindicatos, movimentos sociais, instituições e trabalhadores e trabalhadoras de todo o país manterem-se mobilizados, garantindo que as conquistas da 5ª CNSTT se traduzam em políticas efetivas e mudanças reais nas condições de trabalho e da vida.
O DIESAT seguirá firme nesse caminho, ao lado da classe trabalhadora, fortalecendo o controle social e reafirmando que a saúde do trabalhador e da trabalhadora é um direito humano inegociável. A 5ª CNSTT mostrou que quando os trabalhadores e trabalhadoras sonham juntos, a esperança se transforma em ação coletiva. Agora, o desafio é transformar as palavras em prática e manter acesa a chama da luta por trabalho digno, segurança e saúde para todas as pessoas.